SILVANA MENDES

Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que jogou hoje

FICHA TÉCNICA
Data: 2025
Dimensões: 150 x 110 cm

Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que jogou hoje

FICHA TÉCNICA
Data: 2025
Dimensões: 150 x 110 cm

Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje.

Este trabalho de colagem opera como um encruzilhamento visual, ativando o provérbio iorubá “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que jogou hoje” não apenas como referência, mas como estrutura poética e filosófica da própria imagem. Nessa composição, o tempo deixa de ser linha reta e passa a ser dobra, espiral, curva — um território onde passado, presente e futuro coexistem, trocam de lugar e produzem efeitos uns sobre os outros. Como nos lembra Exu, senhor da comunicação e da imprevisibilidade, aquilo que se enuncia nunca é estático: a linguagem é também movimento, travessia, corpo e estratégia.

As colagens reunidas nesta imagem — com figuras que tensionam a lógica eurocentrada do humano, do real e da memória — evocam o pensamento de Sylvia Wynter, que propõe a urgência de desestabilizar a noção ocidental de “homem” como medida universal da existência. Ao reunir elementos de temporalidades distintas e corpos que não se encaixam nas formas conhecidas, o trabalho convoca justamente esse outro campo de humanidade, onde a fabulação e a ancestralidade são ferramentas de existência e reexistência.

A cena da esquerda, em especial, traz uma figura alada com corpo-memória de matriz africana conduzindo um pássaro dourado preso a um cavalo vermelho, cujo corpo parece bordado com formas florais. Tudo flutua, como se a gravidade fosse outro signo a ser reinventado. Já na cena da direita, a criatura alada e acocorada — híbrida, terrosa e ancestral — se debruça sobre o tempo como quem o molda. Esse gesto silencioso sugere o que Denise Ferreira da Silva chama de “imagem como pensamento”: um modo de produzir mundo sem precisar da linguagem ocidental da razão, da lógica cartesiana ou da separação entre sujeito e objeto.

Assim, esta obra não ilustra o provérbio, mas o encarna. A pedra lançada por Exu atravessa a superfície da imagem e nos atinge no agora, desorganizando o que achávamos saber sobre tempo, causalidade e história. A colagem, como prática política e estética, torna-se aqui um lugar de insubordinação semiótica: ela reorganiza os signos, refaz os vínculos entre matéria e espírito, e nos convida a imaginar o impossível como possibilidade concreta. Porque, como nos ensina Exu, o tempo não caminha — ele dança.

Silvana Mendes, 2025.

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